"O fenômeno Simonal mostrou a cultura secreta brasileira. Realizou o futuro no presente, com o povo participando realmente da música e demonstrando que acabou o tempo das 2 mil pessoas em silêncio ouvindo o prodígio sentado ao piano ou cantando. Olha, fiquei todo arrepiado e com vontade de chorar com aquele negócio. E o que é melhor é que o Simonal sabe o que está fazendo, não tem medo e provou que é realmente doutor em música" - disse Tom Jobim, à revista Veja, em 10/1969, se referindo ao coral de 30 mil vozes que Simonal conduziu no Maracanãzinho, quando fazia abertura do show de Sérgio Mendes.
Numa madrugada do dia 24/02/1938, nascia no Rio de Janeiro, o cantor dusbons WILSON SIMONAL de Castro (ao lado, com Elis Regina, a maior). O "rei do swing", o "1° soulman brasileiro", dono de uma voz privilegiada e senso de interpretação, seu 1° sucesso nacional foi "Nanã", em 1964, com arranjos de Eumir Deodato, aos 21 anos, à época. Depois vieram, "Mamãe passou açúcar em mim" (1966), com arranjos de Erlon Chaves; "Sá Marina" e "Vesti Azul" (1968) e "País Tropical"(1969), estas arranjadas por César Camargo Mariano. Nesta música, foi de Simonal a idéia de cantar "Mó...num pá...tro...pi...", que depois foi incorporada pelo autor Jorge Ben.
Ouvimos na sua voz "Mamãe eu quero", "Meu limão, meu limoeiro", "Zazueira", "Tributo a Martin Luther King", enfim, foram dezenas de sucessos. Inicialmente, apoiado por Carlos Imperial, Ronaldo Boscoli e Luis Carlos Miele, Simonal apresentou programas de auditório na TV, participou de filmes, festivais e cantou junto a Sarah Vaughan, quando esta veio a São Paulo, em 1969 (Tenho o dvd desta apresentação - cortesia do dusbons Zé Dias/RN).
No auge da fama, aos 33 anos, quando deixou a gravadora Odeon pela Philips, no 2° semestre de 1971, Simonal teve seu nome injustamente apontado como dedo-duro de artistas durante o regime militar. Iniciou aqui seu processo de exclusão artística. O semanário O Pasquim ajudou a criar a má fama de Simonal. Até a prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil foi mafiosamente atribuída ao cantor. Este boato, em cima de inverdades, fez que Simonal ficasse exilado do meio artístico, sem precisar ter saído do Brasil. Mesmo tardiamente, em Dezembro de 2003, a Comissão de Direitos Humanos da OAB declarou oficialmente que o cantor era inocente das acusações de delação (e que fora vítima de preconceito racial e discriminação artística). Só que Simonal partiu da Terra, no dia 25/06/2000, aos 62 anos, vítima de uma hepatite crônica que progrediu para cirrose, após 29 anos de ostracismo. Amanhã, estaria fazendo 71 anos de idade.
Simonal deixou como filhos SIMONINHA e MAX DE CASTRO, compositores, cantores e arranjadores que perpetuam o swing do samba-rock, com qualidade musical.
Daqui, tiro uma lição dasboas: Cuidado com o que falamos e escrevemos, sobretudo se for espalhando maledicência, maldade, malícia contra outrem. Nunca teremos a inteira certeza de que estamos falando a completa verdade. E uma injustiça poderá nunca ser reparada. É só lembrar da metáfora que diz que falar mal de alguém é igual a rasgar um travesseiro de penas ao ar. Depois, será impossivel recuperar todas as penas. Assim é também com as inverdades que espalhamos.
DETALHE: Em 1972, Simonal gravou a ótima música "Noves Fora", dos cearenses Belchior e Fágner. Em 1979, seria a vez de Elis Regina gravar o mesmo samba.
2 comentários:
É, meu irmão, a palavra tem repercussões tão sérias. Quando bem-ditas faz tanto bem.Já quando mal(u)-ditas... Muito bom esse link que você nos presenteou da vida real artística e a evolução humana. Agradecido!
Abraço, paz e bem!
É isso, Tom.
Sou fã do músico Simonal e o Brasil precisa saber que que ele foi absolvido de um terrível mal-entendido que houve no passado.
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