Depois de uma curta pausa na postagem, (3 dias sem postar aqui considero muito), compartilho abaixo um excelente texto, de 16/09/2008, da escritora paulista, que mora no Rio, Monica Montone. Pelas artimanhas da internet, este texto foi divulgado como se do cineasta Arnaldo Jabor fosse. Ei-lo, com grifos meus:
" Ser ou não ser de ninguém, eis a questão da Geração Tribalistas"
Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.
Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".
Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo, beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho.
Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança?
A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir juntos abraçados, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter "alguém para amar".
Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas:relação é sinônimo de desilusão.O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras.
Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal juntos até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.
Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos. E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.
Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão.
-----------------------------------------------------------------------------------------
Não sabemos se Marisa, Carlinhos e Arnaldo tiveram a intenção de divulgar a vulgarização nos relacionamentos, como foi percebido pela Mônica, que possui dois Blogs: FINA FLOR e o que leva seu nome. Sabemos que não temos posse real do outro. Podemos ter o prazer com a presença do outro nos dá e vice-versa. De qualquer forma, o texto é muito bom e merece uma reflexão dasboas.
Que outras músicas cantamos por gostar da melodia e do ritmo, mas cuja ideologia da letra não concordaríamos?
5 comentários:
Caro Janio
O texto é muito bom,independente de quem seja o autor pelo seu conteúdo e pela grande realidade que sua mensagem no cotidiano de hoje. A propósito de sua mensagem, semana que passou no Rio de Janeiro e em São paulo, várias pessoas de todas as idades e sexo, fizeram passeata pelas ruas, com cartazes cujo os dizeres era: quero um namorado, não aguento mais ficar só, quero alguem para me acompanhar na vida, não suporto mais a solidão, e por ai vai, o que vem a calhar bem dentro do texto, tudo solto demais, moderno demais, normal demais, ou deixa um grande vazio ou uma tremenda deprssão.
Paulo Pinto
Caro PP,
Sabemos que o milagre é mais importante do que por quem venha; que a mensagem é mais importante do que seu autor.
Achei o texto DUSBONS mesmo, excelente.
Gosto de muitos textos do Jabor, mas resolvi divulgar a autoria real - Mônica Montone - por questão de justiça com a escritora, embora inicialmente estivesse a pesquisar a data que o "Jabor" teria escrito.
Abs.
Um adendo:
A divisão dos parágrafos está conforme a autora tinha feito. Abs.
Caro Janio
Quando escrevi o comentário o texto é bom independente do autor, visei somente o seu conteudo,a solidao em que as pessoas mergulham, por "achar que sao", mas ele ficou melhor depois que voce descobriu quemrealmente era o autor,e melhor ainda por ter sido feito por uma mulher.
Paulo Pinto
Caro PP,
Sou-lhe grato pelas suas participações no Dusbons. Este texto deveria ser distribuído nas escolas, já que muitos pais delegaram àquelas instituições o dever de orientar a criançada e a juventude.
Abs.
Postar um comentário